Jesus desprezado e maltratado

Iniciando a Santa Quaresma, o Bv. Zefirino Agostini oferece esta meditação e a propõe para um momento de contemplação de Jesus, desprezado e Maltratado, e convida a suplicar à luz do Espírito Santo para compreender:

  • A gravidade como Jesus sofreu o desprezo;
  • O modo como Jesus padeceu;
  • O porquê Jesus aceitou sofrer assim.

As suas palavras evidenciam um itinerário espiritual para a Ursulina, e para todo Cristão, que diante do Cristo Sofredor, revisita a sua própria vida, toma consciência das suas contradições e se arrepende, suplicando ao Senhor a graça de uma vida nova, sempre mais semelhante a Sua, deixando-se plasmar pela sua misericórdia.

“Levantai-vos e vamos: Jesus disse, quando retornou pela terceira vez aos seus discípulos no Getsêmani, depois da sua grande agonia. Eu imagino que Santa Ângela meditou profundamente estas palavras, que um convite, e renovou o seu entusiasmo para continuar a seguir o seu Jesus, para viver cotidianamente as ofensas, as dores do seu Esposo divino na sagradíssima sua paixão.

Vós, suas filhas, começamos a meditar os insultos, as injúrias sofridas por Jesus Cristo em menos de 24 horas. O primeiro prelúdio é reavivar a piedade e reverência da vossa fé pela presença de Deus: imaginais de ver Jesus circundado de uma grande multidão de pessoas ferozes. O segundo prelúdio é pedir a Jesus, no vosso coração, para que vos faça bem compreender, pelo Seu ensinamento, como imitá-lo, nestas três coisas: a gravidade como Jesus sofreu o desprezo; o modo como Jesus padeceu; o porquê Jesus aceitou sofrer assim.

As injúrias sofridas por Cristo são, algumas por palavras, outras por fatos. Escutemos com os nossos ouvidos, e as olhemos com os nossos olhos. Filhas, que coisa nós sentimos? Existe injúria assim grave por si própria e pelas suas circunstâncias, cheias de horríveis maldades, que não teria sido lançada perfidamente contra Jesus?

Nós o sabemos bem que Ele é o esplendor da glória do Pai, o santo, o inocente, o Deus homem da contínua e agraciada beneficência e, todavia, eis Ele arrancado da sua honra com as mais atrozes calúnias. [...] Um simples homem que se tornou réu, de quanta reprovação não teria merecido? Ó bom Deus, quem pode, portanto, compreender a maldade destas acusações?

[...] Ó Jesus! A nós despedaça o coração, nos congela o sangue diante destas detestáveis acusações, mas porque as dignastes de sofrê-las assim por nós, tende-nos próximas a vós com a vossa contempladora Santa Ângela, para que possamos ver. O que nós vemos? Jesus traído com um beijo: que tremor causa esta palavra!

Sim, com um beijo do perfidíssimo Judas, e ser conduzido, amarrado como um público malfeitor, pelos soldados e ministros dos Judeus, antes na casa de Anás, depois de Caifás, Sumo Sacerdote junto ao qual, apesar de um horário insólito, se reuniu uma numerosa assembleia de Sacerdotes, Anciãos, de Escribas, de Fariseus que, agitaram todos de um ódio diabólico e de inveja contra Cristo, se agrupam ao redor, o insultam, e geram tumulto.

E, enquanto Jesus, silencioso, reto em pé, com a cabeça descoberta, com as mãos amarradas, é interrogado com lágrimas e ao mesmo tempo com medo. Apenas foi decretado contra Ele, inocentíssimo, a atroz sentença de morte, pelo único motivo que, em nome de Deus, tinha afirmado ser o Filho de Deus, é abandonado a toda sorte de ultrajes. [...]

Não é verdade, infelizmente, que o nosso amor próprio, a nossa soberbia é intolerante as injúrias e aos desprezos? [...] Quando se encontra em nós um virtuoso e paciente silêncio? Façamos nós um confronto entre a nossa inocência com aquela de Jesus? As nossas acusas com as suas, as suas razões com as nossas?

Quanto somos ignorantes, soberbos! Qual vergonha a nossa, em confronto com Jesus! Cuidado se alguém nos toca! Pensemos agora, ó Filhas: se este espírito, intolerante de toda forma de injúria e de desprezo, predominasse em toda Ursulina, onde estaria a abnegação, a pobreza de espírito anunciada tanto por Jesus Cristo no seu Evangelho? Com as suas ações, a ursulina corre o risco de renunciar a Cristo e ao seu Paraíso.

Digamos sempre a nós mesmas: Jesus flagelado, Jesus desonrado, debochado, considerado um ladrão e assassino. E nós, escravos do pecado, vítimas da perdição, filhos da ira por natureza, não sabemos reger quando somos golpeadas por uma palavra, um mínimo desprezo aliás, incredível dizer: um suspeito, uma imaginação de ofensa, de desprezo, e eis o rancor, lamentações, invejas, desejos de aparecer.

Oração

Sim, querido Jesus, nós estamos impressionados e convictos do teu estupendo exemplo diante do sofrimento divino. Quanto vos sois abaixado, aniquilado totalmente na sua paixão, somente por nosso amor, somente para nos dar exemplo de humildade e de abnegação, diante das soberbas razões do nosso amor próprio!

Próprio para isso e unicamente por nosso amor, vós aceitastes ser assim desonrado!  Querido Jesus, vós quisestes a um caro preço ensinar-nos a mortificar a nossa soberba e a amar a humildade, recebeis as expressões do nosso arrependimento, pelo qual profundamente nos arrependemos de ter inflado o nosso coração com a soberba, e de ambição para receber honras.

Jesus, de agora em diante, queremos exultar de santa alegria, e assumir toda injúria, todo desprezo, por vosso amor. Sem a vossa graça, porém, nada podemos fazer. Ó Jesus, doa-nos a tua graça e assim seremos mais semelhantes a vós.  Assim seja!”

 

* Escritos de BV. ZEFIRINO AGOSTINI, p. 377, Arquivo das Ursulinas de Verona.

Pensamento do dia:

Deus não olha tanto a obra que se faz, mas o carinho e a pureza de intenção.

(Bv. Pe. Zefirino Agostini)