Discurso do Papa Francisco à IV Conferência Missionária Nacional promovida pela CEI – Roma

20 a 23 de novembro de 2014

Queridos Irmãos e Irmãs, Bom dia!
Hoje voces se levantaram cedo: a que hora? [...]

Parabéns ao coral! Obrigado! Vos acolho com alegria em ocasião da Conferência Missionária Nacional da Igreja na Itália e agradeço Mons. Ambrosio Spreafico pelas palavras que me dirigiu. Eu disse a ele: ‘sejais atentos, que a baleia não vos engula!’ e ele me respondeu: ‘Para Cristo a baleia é o dinheiro; é o deus dinheiro’. É verdade, Jesus disse: «Não se pode servir a dois patrões». É verdade! O bispo é sábio!

O programa da vossa conferência tem como tema as palavras do Senhor dirigidas ao Profeta Jonas: «Vai a  Nínive, a grande cidade!». Jonas, porém, inicialmente foge. Vai rumo ao Ocidente, na direção contrária. Tem medo de ir para a grande cidade, preocupado mais em julgar do que da própria missão que lhe foi confiado.  Mas depois vai e em Nínive tudo muda: Deus mostra a sua misericórdia e a cidade se converte. A misericórdia muda a história das pessoas e dos povos. Como diz o Apóstolo Tiago:  «a misericórdia é sempre maior que o juízo» (Tg 2,13). O convite feito a Jonas, hoje é dirigido a voces. E isto é importante. Cada geração é chamada a ser missionária. Levar aos outros o tesouro que temos dentro, aquilo que o Senhor nos doou.

Assim foi desde o início!  Recordamos quando André e João encontraram o Senhor e depois permaneceram com Ele naquela tarde e à noite. Saíram dali cheios de entusiasmo. A primeira coisa que André e João fizeram foram ‘ser missionários’. Foram até os irmãos e amigos: «Encontramos o Senhor, encontramos o Messias!» Depois do encontro pessoal com o Senhor isso é imediato.

Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium falei de “Igreja em saída”. Uma Igreja missionária está sempre “em saída”, não tem medo de encontrar, de descobrir a novidade, de proclamar a alegria do Evangelho. A todos, sem distinção. Não para fazer proseletismo, mas para dizer aquilo que nós temos e desejamos partilhar com todos.

As diferentes realidades que nós representamos na Igreja italiana indicam que o espírito da missio ad gentes deve tornar-se o espírito da missão da Igreja no mundo: sair, escutar o grito dos pobres e dos afastados, encontrar todos e anunciar a alegria do Evangelho. As Igrejas particulares na Itália fizeram tanto!  Cada manhã, na Missa na Capela Santa Marta, encontro um, dois, tres que chegam de longe: “Eu estou muitos anos trabalhando na Amazônia, outro na África, ...” Mas tantos padres, tantas irmãs, tantos leigos fidei donum. Voces tem isso no sangue! É uma graça de Deus. Voces devem conservar este dom, faze-lo crescer e doá-lo em herança às novas gerações de cristãos.  Certa vez veio um sacerdote idoso e doente: “Como estás?” perguntei – “Já são 60 anos que estou na Amazônia, fui para a missão antes de ser ordenado”. Isso é grandioso: deixar tudo!

Repito o que me disse um Cardeal brasileiro: “Quando vou visitar o Regional da Amazônia – porque tinha a missão de visitar as Dioceses da Amazônia – vou sempre ao Cemitério para visitar os túmulos dos missionários. E são tantos!  E eu penso: Estes poderiam ser canonizados agora!”  

É a Igreja; são as Igrejas da Itália.
Obrigado!  Muito Obigado!

Vos agradeço por aquilo que façais em diferentes áreas: como parte das secretarias da Conferência Episcopal Italiana, como diretores das sacretarias diocesanas, junto com consagrados e leigos. Vos peço de empegnar-se com paixão para manter vivo este espírito.  Vejo com alegria junto com Bispos e sacerdotes tantos leigos. A missão é tarefa de todos os cristãos, não somente de alguns. É compromisso também das crianças! Nas Pontefícias Obras Missionárias, os pequenos gestos das crianças educam à missão. A nossa vocação cristã nos pede de sermos portadores deste espírito missionário para que aconteça uma verdadeira “conversão missionária” de toda a Igreja, como expresso na Evangelii Gaudium.

A Igreja italiana – repito – doou numerosos sacerdotes e leicos fidei donum, que escolheram de doar a vida para edificar a Igreja nas periferias do mundo, ente os pobres e os longínguos.  Este é um dom para a Igreja universal e para os povos. Vos exorto de nao deixar-vos roubar a esperança e o sonho de mudar o mundo como Evangelho, com o fermento do Evangelho, iniciando das periferias humanas e existenciais.  Sair significa superar a tentação de falar entre nós, esquecendo os tantos que esperam de nós uma palavra de misericórdia, de consolação, de esperança. O Evangelho de Jesus se realiza na história.

Jesus foi um homem de periferia, daquela Galileia longíngua dos centros do poder do império romano e de Jerusalém. Encontrou os pobres, doentes, endemoniados, pecadores, prostitutas, reunindo ao redor de si um pequeno grupo de discípulos e algumas mulheres que o escutavam e o serviam. Apesar disso, a sua palavra foi o início de uma mudança na história, o início de uma revolução espiritual e humana, a boa notícia de um Senhor morto e ressuscitado por nós. E nós queremos partilhar este grande tesouro.

Queridos Irmãos e Irmãs,

Vos encorajo a intensificar o espírito missionário e o entusiasmo da missão e a relevar no vosso empenho nas Dioceses, nos Institutos missionários, nas Comunidades, nos Movimentos e nas Associações o espírito da Evangelii Gaudium, sem desanimar nas dificuldades, que não faltarão jamais e – sublinho uma coisa – iniciando das crianças. Na catequese as crianças devem receber uma catequese missionária. Às vezes, também na Igreja vivemos tomados de pessimismo, que arrisca de privar do anúncio do Evangelho tantos homens e mulheres. Vamos adiante com esperança!

Os muitos missionários mártires da fé e da caridade nos indicam que a vitória é somente no amor e numa vida doada pelo Senhor e pelo próximo, a partir dos pobres. Os pobres são os companheiros de viagem de uma Igreja em saída, porque são os primeiros que encontra. Os pobres são também os vossos evangelizadores, porque vos indicam aquelas periferias onde o Evangelho deve ser ainda proclamado e vivido. Sair é não permanecer indiferente à miséria, à guerra, à violência das nossas cidades, ao abandono dos idosos, ao anonimato de tantas pessoas necessitadas e ao afastamento dos pequenos. Sair e nao tolerar que nas nossas cidades cristas existam tantas crianças que nao sabem fazer o sinal da cruz. Isso é sair! Sair é ser operador de paz, aquela “paz” que o Senhor nos doa a cada dia e da qual o munso tanto necessita.  Os missionarios nao renunciam mais ao sonho da paz, também quando vivem nas dificuldades e nas perseguiçoes, que hoje se fazem sentir com força.

Encontrei, durante estes dias, Bispos do Oriente Médio, também párocos – dois – das cidades mais atingidas pelas guerras no Oriente Médio: eram felizes no seu serviço de evangelização no meio do seu povo. Sofriam por aquilo que está acontecendo, mas tinham a alegria do Evangelho no coração. Que o Senhor faça crescer em vós a paixão pela missão e a transformar-vos testemunhas do seu amor e da sua misericórdia em todo lugar.

E a Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, vos proteja e vos torna fortes no missão a vós confiada. Também eu devo ser missionário e vos peço, por favor, de rezar por mim e de coração vos abençoo!

Papa Francisco

Pensamento do dia:

Recorramos a Maria, luz nas nossas trevas, riqueza em nossas misérias.

(Bv. Pe. Zefirino Agostini)